
Deixamos o leitor com um excerto do livro
"Quando 'acordou' daquela letargia devidamente explicável, já o rapaz ia a uma distância razoável, seguiu-o. Pelo caminho ia roubando a fragrância que se desprendia dele, um perfume que bem conhecia, rompia com todos os protocolos conhecidos – docemente amargo, quando se perdia pela solidão e vertiginosamente salgado, quando planava sobre a ilusão. Pertencia-lhe aquela fórmula da sua própria existência, não tinha dúvidas de que a vida sobreviveria a mais um salto sobre a sua própria imagem – meio gelada, meio a arder – de sobrevivente. Desceu uma rua acentuada e viu o seu 'vulto' a entrar numa enorme porta, num antigo palácio – só depois se apercebeu que era a Biblioteca Municipal Braamcamp Freire. Desceu, o que viria depois a descobrir – a rua da 'amargura'. Apreciou durante poucos minutos – o tempo que a ansiedade permitiu – a paisagem do lado esquerdo que se estendia até ao rio Tejo. De novo ouviu aquele ruído metálico e rafeiro vindo de um rádio a pilhas, não vinha de lado nenhum o velho que calmamente empurrava a sua 'pasteleira'. Examinou, de forma delicada e complacente Matilde, e soltou um suspiro.
– Tenha cuidado – aclarou a garganta e repetiu – tenha cuidado com o que persegue.
– Desculpe?! – Matilde ficou numa paralisia quase profusa.
– Tenha cuidado – fixou-lhe os olhos e desceu fundo, como se de uma montanha russa se tratasse – ele é um 'Ladrão de Livros'. Rouba-lhes a alma e bebe-lhes a vida. – Naquele instante Matilde já olhava para um imenso vazio, o barulho do rádio tinha desaparecido e com ele as palavras que escutara.
– Mas não somos todos assim? – interrogou-se no meio da sua perplexidade – para que servem os livros? Não é para isso, para lhes roubarmos a Alma e lhes bebermos a Vida?"
– Tenha cuidado – aclarou a garganta e repetiu – tenha cuidado com o que persegue.
– Desculpe?! – Matilde ficou numa paralisia quase profusa.
– Tenha cuidado – fixou-lhe os olhos e desceu fundo, como se de uma montanha russa se tratasse – ele é um 'Ladrão de Livros'. Rouba-lhes a alma e bebe-lhes a vida. – Naquele instante Matilde já olhava para um imenso vazio, o barulho do rádio tinha desaparecido e com ele as palavras que escutara.
– Mas não somos todos assim? – interrogou-se no meio da sua perplexidade – para que servem os livros? Não é para isso, para lhes roubarmos a Alma e lhes bebermos a Vida?"
Muitos parabéns! Mais uma vez a Fronteira do Caos vem brindar-nos com uma capa magnífica, e ao que parece com um conteúdo que em nada lhe ficará a dever. Em ano de grande crise, esperemos que os leitores não menosprezem o que de muito belo ainda nos resta - o prazer de ler coisas boas!
ResponderEliminarSubscrevo exactamente o que escreveu a "Rosa Brava" no seu comentário a este post.
ResponderEliminarAcabei de ler "O Ladrão de Livros", gostei imenso.
ResponderEliminarFiquei fascinada com a elegância da escrita do autor e também com a actualidade do conteúdo.
Carlos Barros surpreendeu-me ainda pela sua sábia divagação pelo mundo do sonho e da realidade.
Uma vez mais "sentimos" o seu amor pela cidade de Lisboa, o seu carinho por Santarém, a sua paixão pela Argentina...
"O Ladrão de Livros" é uma leitura a não perder.
PARABÉNS ao autor e à Fronteira do Caos pelo trabalho que tem vindo a desenvolver.
Acabei de ler "O Ladrão de Livros", gostei imenso.
ResponderEliminarFiquei fascinada com a elegância da escrita do autor e também com a actualidade do conteúdo.
Carlos Barros surpreendeu-me ainda pela sua sábia divagação pelo mundo do sonho e da realidade - uma "viagem" feliz no sentido da nossa redescoberta
Uma vez mais "sentimos" o seu amor pela cidade de Lisboa, o seu carinho por Santarém, a sua paixão pela Argentina...
"O Ladrão de Livros" é uma leitura a não perder.
PARABÉNS ao autor e à Fronteira do Caos pelo trabalho que tem vindo a desenvolver.